I.1 – Introdução ao conceito de turismo: das definições técnicas às definições heurísticas
Documento 1
Mapa sinalizando o itinerário do “Grand Tour”- Séc. XVII
“Viajar: partir de um lugar para outro, relativamente afastado [...] ”
Esta definição tirada do dicionário online, Infopédia, salienta a ideia primeira que a noção de viajar transmite: a deslocação.
As deslocações, ou sejam as viagens, foram ao longo dos tempos habituais e recorrentes. Já Heródoto, na Antiguidade, descrevia as suas viagens através de crónicas deixadas como testemunhas da sua vivência.
No entanto, o conceito de turista, intrinsecamente ligado ao de viajar, só apareceu no séc. XVIII, após divulgação dos costumes aristocráticos da juventude inglesa. O “Grand Tour” (cf. documento 1) permitia a esta classe social, viajar pela Europa, com um objectivo pedagógico. Assim a alta sociedade britânica viajante, passou a ser designada como “Tourists” da palavra “Tour”.
Assistimos então à emergência da palavra Turista.
Documento 2
A capa do livro de Eça de Queirós, Os Maias (1888).
Fonte : Wikipédia, The free Encyclopedia.
Eça de Queirós, conhecido pela sua obra principal “Os Maias”, contribuiu para a afirmação da palavra touriste. Este autor utiliza o termo na obra acima referida. A viagem pela Europa então praticada pela burguesia foi assim caracterizada no seu romance.
Já em França, Stendhal alimentava esta tendência editando em 1838 a obra “Mémoires d'un touriste”, descrevendo o seu périplo entre a França, Suíça e Itália.
À imagem dos turistas burgueses, estas deslocações são exclusivamente reservadas a elites, que viajam por mero prazer.
Imagem 1
O arquétipo do Turista através de uma caricatura.
Fonte: https://citytourmochileiro.blogspot.pt/2011/04/anatomia-do-turista.html
Tudo isto leva-nos a pensar que o turista tem características próprias. Ou talvez a imagem que o turista transmite seja aquela caricatural referida na imagem 1. Ou seja, uma pessoa facilmente reconhecível em qualquer parte do mundo, pelos seus afazeres.
Mas a realidade é bem mais complexa. Segundo a O.N.U. (Organização da Nações Unidas), o conceito de turista é parte da noção de viajante. Em 1963, a Conferência da O.N.U. determinou que o turista é aquele que permanece mais de 24 horas no país visitado e cujos motivos de viagem são identificados como de lazer, de repouso, de férias, de saúde, etc.
Em 1993, a definição técnica adoptada, sob os conselhos da O.M.T. (Organização Mundial do Turismo), delimita mais ainda o conceito, dando-lhe um sentido mais preciso. O turista é então um visitante que pernoita uma vez ao menos num estabelecimento de alojamento. Entende-se aqui, que na noção de visitante existe uma deslocação fora do contexto habitual, durante um período inferior a doze meses consecutivos, por qualquer motivo excluindo o de exercer uma atividade remunerada.
Imagem 2
A diversidade das atividades ligadas ao turismo em Portugal
Fonte: https://lusotur.blogspot.pt/2011_03_01_archive.html
Kurt Krapf e Walter Hunziker (1942) da Universidade de Berna, definiram o turismo como ”o conjunto das relações e fenómenos produzidos pela deslocação e permanência de pessoas fora do seu lugar de domicílio, na medida em que ditas deslocações e permanência não sejam motivadas por uma actividade lucrativa.”
A imagem 2 ilustra a definição que contenta a maioria, acima referida. No entanto, observamos ao longo do século XX a definição evoluir para uma visão mais abrangente, tendo em conta a opinião de Luis Fernandez Fuster (1989), o turismo engloba os turistas, os equipamentos de alojamento, os transportes, os profissionais e toda a atividade ligada ao sector e que lhe permitem funcionar.
Em suma, Mathieson e Wall (1982) destacam a definição conceptual, descrevendo o turismo como “o movimento de pessoas para destinos fora dos seus locais de trabalho e residência, as actividades desenvolvidas durante a sua permanência nesses destinos e as facilidades criadas para satisfazer as suas necessidades.”
Em 1983, a O.M.T. define o aspecto técnico do turismo como “o conjunto das actividades desenvolvidas por pessoas durante as viagens e estadas em locais fora do seu ambiente habitual por um período consecutivo que não ultrapasse um ano, por motivos de lazer, de negócios e outros.”