ENSAIO CRÍTICO DO MÓDULO III

ENSAIO CRÍTICO DO MÓDULO III

O módulo III está orientado para o retrato atual da nossa sociedade perante o turismo.

Na primeira parte deste módulo, o termo “pós-modernidade” emerge e pode qualificar a nova forma de ser turista no século XXI. A cultura do belo, do que atrai está ao centro das escolhas. Assim o demonstra o documento 1. A hegemonia das marcas, da imagem de marca prevalece quando se deve optar por um produto ou um serviço. No turismo, desejamos estar naquela praia com areia quase branca, com aquela água que adivinhamos estar quente, com aquele ambiente luminoso, com altas temperaturas. Os fatores que levaram a esta posição residem nas evoluções que conhecemos durantes estas últimas décadas. Para além da crescente influência da comunicação social, a tecnologia acompanhou a evolução, assim como as condições de trabalho. Estes fenómenos conjugaram-se, e permitiram um acesso facilitado às viagens, por haver aumento do tempo livre, acabando por o turismo ser assumido como um lazer além-fronteiras. Podemos dizer que é considerado, hoje em dia, como um direito de cidadania. Trata-se de uma forma cosmopolita de praticar turismo onde o cidadão turista se disponibiliza para interagir e refletir sobre as diferenças entre o seu próprio ambiente e aquele que visita (do ponto de vista social, cultural, histórico e natural).Os sociólogos Lash e Urry (1994) falam neste caso de cosmopolitismo estético, que destaca a capacidade de cada um a avaliar essencialmente o que vê em termos comparativos. A segunda dimensão desta cidadania do turismo, salienta o facto de esta atividade ser francamente consumista e mercantil, dando acesso a uma variedade de bens e serviços que só o turismo faculta.

Com esta combinação entre a mobilidade e o consumo, podemos designar a modernidade como especificidade do turismo.

Este complexo desencadear de factos, está relatado na obra do Sociólogo Britânico John Urry, “O olhar do turista”, escolhido como documento 2 do nosso portefólio. A contribuição de Urry é fundamental na compreensão do conceito de pós-modernidade. O capítulo 5 deste livro trata do tema desta primeira parte: mudanças culturais e reestruturação do turismo. Aborda também a noção de “desdiferenciação” por oposição à diferenciação social que o turismo também conheceu.

A pós-modernidade segundo Urry, implica que não haja diferenças entre grupos sociais quanto ao acesso ao turismo, e que também não haja fronteiras entre as diversas formas culturais de expressar o turismo (fotografia, arte, música, desporto, compras…). Este é o resultado da democratização do turismo, que transformou o turismo elitista e o turismo de massas, sendo eles organizados, em turismos desorganizados. John Urry (1995) utiliza o termo “fim do Turismo” para caraterizar esta fase, como sendo uma transição para outro tipo de turismo. O turismo como o conhecemos tende a destruturar se e a perder especificidade que o tornava uma atividade particular da modernidade. O que nos leva à “desdiferenciação” social e ao pós-turista. Urry admite que segundo Lash, “ a pós-modernidade ‘é um regime de significação, cujo traço estruturante fundamental é a desdiferenciação’” (1990, in o olhar do turista, p.119). O pós-turista é o turista que se move dentro de qualquer tipo de turismo, e que não é distinguido de outra forma, a não ser o facto de ser um intruso.

Resta-nos abordar a soberania da cultura visual que o documento 3 apresenta com vários sítios reconhecíveis pela maioria. Estes ex-libris mundiais representam, cada um, os seus países e alimentam a cultura visual do pós-turista. Mesmo nunca tendo viajado, a população reconhece com facilidade a Torre Eiffel, a Muralha de China ou as pirâmides egípcias. Isto deve-se ao desenvolvimento das tecnologias de comunicação e ao acesso então facilitado à imagem. O consumismo está intimamente ligado a esta cultura da imagem que alguns autores qualificariam de “esteticização da vida quotidiana” (Featherstine, 1992). Assim o pós-turista constrói a sua própria realidade e idealiza as suas férias, já que a industria do turismo objetifica e mercadoriza as cidades, os monumentos, as paisagens, os costumes e até os sentimentos, sem haver deslocação. No entanto, a necessidade de vivenciar a experiência turística, leva o pós-turista a viajar para locais onde encontrará os mesmos elementos do seu próprio contexto habitual (restauração, pronto a vestir…) e obviamente o que o motivou à prática turística: a imagem que destaca o local visitado com os seus atrativos. Assim, à medida que a modernidade entra em crise, o potencial arquitetónico e histórico de uma cidade atrai cada vez mais.

Podemos então ressaltar algumas características do pós-turista que Urry apresenta na sua obra acima referida como documento 2. Para além de conhecer o terreno que deseja visitar sem o ter visitado antes, este é consciente da multiplicidade de escolha e da sua posição de ator e espetador. Assume-se como turista e tenta aproveitar o lado lúdico da experiência.

Na segunda arte deste módulo, “ Tipologias da procura turística: o turista nos seus diversos tipos”, abordamos, sobretudo as motivações dos turistas, ou seja, o que leva o turista a tomar a decisão de viajar e as motivações para a viagem, como por exemplo, negócios, cura, estudos, visitas familiares, assistência a manifestações especiais, culturais ou desportivas. Neste contexto inserem-se as diversas tipologias ou papeis que irão determinar as motivações dos turistas, a maioria dos autores baseou-se nos impactes sociais e ambientais do turismo ou na natureza da experiência turística para lhes ser mais fácil explicar os vários tipos de tipologia. As tipologias abordadas foram, segundo a tipologia de E. Cohen que consiste em, distinguir o turista que procura a novidade do turista que prefere a familiaridade. Dentro desta tipologia distinguem-se: turistas de massas organizado, caraterizado por não ser nada aventureiro, sempre com todas as suas atividades marcadas, não dispensando um bom guia, a familiaridade está no ponto máximo e a novidade no mínimo; o turista individual, tendo controlo sob o seu próprio itinerário sem estar ligado a nenhum grupo organizado, mas contudo a sua viagem é toda organizada por uma agência de turismo. Este tipo de turista só viaja para destinos que tenham um pouco a ver com o seu local de residência, ou seja a familiaridade ainda é dominante; o turista explorador, organiza as suas viagens completamente sozinho, tenta interagir ao máximo com a cultura local; turista nómada ou drifter este turista foge completamente ao seu estilo de vida normal tenta fugir ao máximo da rotina, integra-se completamente na cultura visitada a novidade está aqui no seu ponto mais alto. Neste contexto insere-se o seguinte documento: doc. 4 – “ Turista nómada ou drift, Turista individual, Turista de massas organizado ou explorador. Uma outra tipologia é a de Yannakis e Gibson, que consiste nas motivações que levam o turista a planear o tempo livre gasto nas atividades turísticas. Dentro desta tipologia podemos distinguir: o amante do sol, é o tipo de turista que está interessado em descansar e tomar banhos de sol em locais de temperaturas muito elevadas; que procura ações excitantes, é o tipo de turista que está interessado em reuniões sócio – turísticas, na qual frequenta bares e discotecas com o objetivo de se relacionar com o sexo oposto; Arqueólogo, é aquele turista que procura destinos com grande interesse arqueológico; Turista organizado, é o turista que viaja com tudo previamente organizado e que adora tirar fotografias e comprar recordações; Aventureiro, é o turista que está á procura de novas experiências e de sensações de risco; Explorador, prefere viajar para destinos que ainda não foram descobertos e explorados turisticamente; Elitista, é aquele turista que só frequenta destinos elitistas e só realiza atividades consideradas de elite; Espiritualista, busca essencialmente um conhecimento espiritual e a busca pela paz interior enquanto viaja; Turista individual, embora viaje para destinos de massas, organiza a sua viagem sozinho; Turista de classe alta é o turista que só utiliza serviços da mais alta qualidade, hotéis 5 estrelas e transportes de 1ª qualidade; Antropólogo é aquele turista que se infiltra na comunidade que visita e que partilha os seus costumes e a sua vida; Turista de Mochila, pode planear ou não o seu destino de férias e anda sempre com a mochila às costas; que escapa da rotina, procura sítios calmos propícios ao descanso e que façam com que se possa fugir á rotina; Desportista, procura os destinos de férias com o objetivo de praticar os seus desportos de eleição. Neste contexto inclui-se o documento 5: – “ O amante do sol”, – “ O que procura ações excitantes”, “O arqueólogo”, “ O aventureiro”, “ Espiritualista”,“ Turista de classe alta”, “ Desportista”. Por último, a tipologia de Plog, baseada numa escala de traços de personalidade e preferências de estilo de vida, esta escala é composta por dois extremos Psicocêntricos e Alocêntricos, no primeiro caso podemos dizer que são pessoas que concentram o seu comportamento nas suas preocupações pessoais e são mais passivos do que ativos, no segundo caso podemos dizer que são pessoas muito curiosas e que tem um grande desejo de aventura e são mais ativos do que passivos.

Na terceira parte do módulo III, vamos tratar do turismo e dos seus impactes que podem ser de ordem ambiental, económico ou sociocultural.

Os impactes são os efeitos produzidos pela atividade turística num determinado local, que afetam de forma positiva ou negativa o ambiente e a população. A sustentabilidade é uma forma de equilibrar os efeitos e de favorecer o lado positivo. O documento 8 demonstra esquematicamente como fazer para atingir uma atividade sustentada. Este diagrama foi elaborado em 1987 para o relatório de Brundtland (Primeiro ministro norueguês do momento e dirigente desta comissão) no âmbito da World Commission on Environment and Development, cujo objetivo é prosseguir para um desenvolvimento sustentável dos países que aderirem. A conjugação do ecológico, do social e do económico permitem alcançar um patamar de sustentabilidade, como o demonstra o documento 8.

Esta comissão de Brundtland apresenta-se como um dos meios governamentais internacionais para controlar os impactes do turismo. Assume-se que existem efeitos negativos e incentiva-se à sustentabilidade. Outras organizações motivam e aconselham as nações a ter boas práticas sustentáveis, como a World Tourism Organization (WTO) através do “Tourism Bill of Rights and Tourist Code” (1992) que promove as responsabilidades governamentais quanto ao controle dos fluxos turísticos e do comportamento dos turistas. Mas o sucesso destas medidas também passa pelos organismos privados que, ao terem um comportamento sustentado, ajudam ao aumento dos efeitos positivos e ao recuo dos aspetos negativos.

O documento 9 esclarece-nos sobre os possíveis impactes ambientais positivos do turismo. Podemos observar que em Portugal existe uma rede de áreas protegidas sob égide do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB). Esta organização enquadra a proteção ambiental juntamente com a boa prática do turismo, em acordo com o património natural de que usufruímos. O planeamento é essencial para o desenvolvimento positivo do turismo no ambiente.

Quanto aos impactes ambientais negativos do turismo, podemos destacar o documento 10, que ilustra a poluição, a degradação e a capacidade de carga saturada. A intensificação do turismo, nomeadamente o turismo de massas, pode alterar de forma negativa a genuinidade de um local. A poluição da natureza pelo despejo de detritos, pela presença de linhas de alta tensão, pelas emissões de produtos tóxicos ou pela lotação esgotadíssima das praias na época estival, são o resultado das crescentes necessidades do aumento de fluxos populacionais, e indiretamente dos fluxos turísticos. Mais turistas implicam mais construções para o bem-estar do viajante, considerando que é necessário trazer energia até ao local, e tratar os resíduos resultantes da estadia, para além de transportar os bens de consumo diário como os produtos frescos destinados à restauração. Pois o turismo tem uma influência sobre o ambiente que Doris Ruschmann (1999) admite ser difícil de medir. Doutorada em turismo, Ruschmann indica cinco razões que complicam a medição dos impactes ambientais do turismo: em primeiro lugar a evolução constante do homem impede que este seja um indicador fiável, depois é impossível dissociar o homem e a natureza; a dificuldade em definir as interações turísticas; o impossível e/ou dificultado relacionamento entre as causas e os efeitos e a dificuldade de seleção de indicadores. Ruschmann (1999) concorda em dizer que existem impactos ambientais positivos e negativos. Dos aspetos positivos elencados pela erudita, podemos realçar a promoção de sítios virgens de frequentações humanas, mas no âmbito da sustentabilidade. Também se destaca que haverá a possibilidade de utilizar os rendimentos deste turismo sustentado para a preservação ambiental.

Dos aspetos negativos podemos realçar a capacidade de carga quando esta é ultrapassada. Mathieson e Wall (1982) definem este conceito como “o número máximo de pessoas que pode usar um local sem o alterar de forma inaceitável a nível ambiental e sem um inaceitável declínio da qualidade da experiência do visitante”. Esta capacidade de carga pode ser medida através do critério ambiente físico e socioeconómico indígena ou do critério imagem e produtos turísticos. O primeiro critério aponta para a capacidade do ambiente em causa a suportar danos físicos, sem produzir problemas socioculturais e económicos às populações, mantendo o equilíbrio entre o desenvolvimento e a conservação. O segundo critério refere-se ao numero de visitantes compatível com a imagem do produto e o tipo de experiência ambiental e cultural que o visitante procura.

A noção de capacidade de carga é fundamental para usufruir de um desenvolvimento sustentado. Assim a Comissão Mundial para o Desenvolvimento do Ambiente assume em 1987 que o desenvolvimento sustentado é aquele que corresponde às necessidades do presente sem pôr em causa a satisfação das futuras gerações. Não expondo demasiado os locais alvo de turismo para não atingir o irreversível insustentável.

Esta vertente sustentável vai sendo adotada por cada vez mais entidades. Os benefícios são óbvios para várias categorias socioprofissionais. Várias empresas já dedicam parte do seu orçamento na aplicação de regras sustentáveis tais como a redução dos gastos de energia, na poupança de água, a utilização de matérias reciclados e recicláveis, adjunção de espaços verdes para compensar as infraestruturas e a poluição sonora resultante, etc. (podemos citar os exemplos da MacDonald, do Hotel Jardim Atlântico, do Centro de Congressos do Estoril, várias companhias aéreas).

Continuando o nosso raciocínio, os impactes também se fazem sentir a nível económico. O documento 11 salienta este tema, demonstrando que pode haver criação de emprego e entrada de divisas no país recetor dos turistas, o que contribui para o desenvolvimento económico da região em causa. Assim se possibilitam a construção de infraestruturas suplementares para melhorar a oferta. Indiretamente esta evolução beneficia às empresas locais de construção (Ruschmann, 1999). Por vezes o turismo é a única oportunidade de desenvolvimento que uma região tem (exemplo dos países em desenvolvimento).

 Por outro lado temos um acréscimo dos custos e uma sazonalidade própria à área do turismo que alimenta o desemprego. Sem omitir de referenciar a fuga de capitais quando turistas são enviados por Tour Operator cujos hotéis e companhias aéreas são sediadas nos países de origem, o que não traz qualquer lucro para o país visitado. Também se pode considerar como limitativo este processo de tudo incluído. Os turistas são mandados para unidades hoteleiras onde todas as necessidades vão ser atendidas. Supõe-se então que não haverá qualquer tipo de contacto com a população local (UNEP, United Nations Environmental Program, 2000), sem esquecer o aumento dos preços observado durante as épocas altas que não ajudam os residentes a usufruir destas benesses.

Por último podemos salientar os impactes socioculturais. Estes são ilustrados pelo documento 12. As imagens selecionadas demonstram que o turismo pode acarretar trocas benéficas como a entreajuda, a descoberta da cultura local, a partilha de hábitos gastronómicos, entre outros.

Do ponto de vista negativo, podemos avançar, como referido nas imagens do documento 12, o choque das culturas. Este impacto cultural confronta realidades opostas, formas diferentes de entender a sociedade, o que pode gerar conflitos. Outro aspeto negativo, que vários especialistas (Smith, 1990; Kelly, 1993; Crotts, 1996) concordam em salientar, é o desenvolvimento da violência e da prostituição induzidos pelo turismo.    

Todos estes impactes devem ser considerados para os impactos negativos serem reduzidos. O planeamento deve ser pensado para o viajante e também para o residente. A combinação de vários elementos fundamentais no planeamento, de forma cuidada, estudada e sequenciada, é essencial para o futuro do turismo, como de qualquer industria preocupada com a preservação do nosso planeta.